A Usina Serro Azul foi construída na metade do século XIX, entre os anos de 1896 a 1929, pelo coronel José Piauhylino Gomes de Melo Filho.
O engenho Camevou, nas margens do rio Una, local onde foi construída a Usina Serro Azul, fica a 22 quilômetros de distância da sede do município de Palmares. A maquinaria original foi trazida da Inglaterra. Interessante que o coronel batizou a nova usina por ele construída mudando apenas a letra final de Serra para Serro.
Além de administrar a Usina Serra Azul em atividade, incluindo campo agrícola e indústria, o coronel José Piauhylino dirigia os trabalhos da nova construção. Nos sete dias da semana, fazia o percurso a cavalo entre as duas usinas, saindo de casa às 4 horas da madrugada e regressando às 10 horas da noite, sem acompanhante. Achava ele que ninguém se atreveria a emboscá-lo, muito menos a enfrentá-lo. O trecho entre as duas usinas era uma verdadeira travessia de matas virgens, ladeiras, lama e sem habitações. Quando chegava na casa grande da Usina Serra Azul, estava à sua espera, seu estribeiro de confiança – Veríssimo Gomes – sentado no terraço da casa, às vezes já ultrapassando de meia noite. Na época do inverno regressava molhado e sujo de lama. Deixava as botas sujas na calçada, após fazer a rotineira recomendação: “Veríssimo! às 4 horas da manhã eu quero o cavalo pronto e as botas enxutas”. E, na hora marcada, lá estava o animal e as botas, conforme o coronel dissera. Usava para o trabalho, dois pares de botas. Veríssimo sempre teve o cuidado de cumprir as determinações pontualmente, antecipando-se 10 minutos da hora marcada. Nunca ouviu a 4ª badalada do grande relógio de parede da sala, sem o coronel depois de alguns segundos lhe dar bom-dia! Esse regime de trabalho durou até 1922, quando a Usina Serro Azul moeu e o coronel passou a residir na usina nova. MOURA (1998)*
A usina chegou a possuir 22 engenhos, onde plantava a cana de açúcar para sua produção: Camevou (a sede), Camevouzinho, Liberdade, Aratinga, Fertilidade, Floresta, Serra Azul (a antiga usina), Moscou, Aliança, Mágico, Verde, Mearim, Canário, União, Riachuelo, Penderaca, Vista Alegre, Tambor, Almirante, Rosa Murcha, Barra do Dia e Pará.

Casarão da usina, residência dos proprietários, em alvenaria de tijolos sobre calçada alta, tem acesso através de escadaria em três lances. Seu alpendre em forma aproximada em “U” tem telhado independente apoiado sobre colunas quadrangulares em alvenaria. Os guarda-corpos são em elementos no mesmo material. O telhado principal é protegido por platibanda recortada, com delicados adornos em massa e pináculos.
Após a morte do coronel, em 22 de novembro de 1951, a usina passou a ser administrada por seus filhos e genros.
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Plácido Gouveia de Melo - escritório geral no Recife
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Waldecir Gouveia de Melo – a indústria
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Fernando Gomes de Melo – o campo (engenhos)
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Clóvis Gouveia de Melo – engenho Serra Azul (antiga usina)
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Paulo Gouveia de Melo – engenho Liberdade
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Fernando Lúcio (genro) – engenho Camevouzinho
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Edgar Carneiro Leão (genro) – engenho Liberdade
Em 1967, para sobreviver, os proprietários solicitaram ao Instituto do Açúcar e de Álcool (IAA) que realizasse uma intervenção na indústria. Medida esta aprovada pelo então presidente da república marechal Arturo da Costa e Silva.
A família Gouveia de Melo afastou-se e foi residir no Recife. Os antigos funcionários permaneceram em seus cargos. Algumas das melhores casas foram desocupadas para hospedar a equipe de interventores. Era o começo do fim…
Estiveram à frente do processo de intervenção os senhores Luiz Lacerda, Aluízio Ferreira Baltar, Arlindo de Almeida e Zacarias Ribeiro, todos funcionários do IAA.
A intervenção acabou em 1973, quando a usina foi vendida para Fernando Antônio Torres Rodrigues, juntamente com a Usina 13 de Maio, atual Usina Vitória, situada no engenho Catuama, na periferia da sede do município.
Apesar das melhorias implantadas na Serro Azul, o Sr. Fernando é o responsável pela derrubada das matas virgens e o arrendamento dos engenhos, transferindo assim a administração dos mesmos para outras pessoas.
Infelizmente a crise reapareceu. Em 1982, o próprio Sr. Fernando conseguiu a desapropriação da usina e dos engenhos, que passou a ser administrada pela Cooperativa Agrícola Tiriri.

Desativada e abandonada, o patrimônio se encontra totalmente destruído pela ação do tempo.
A área ocupada pela Serro Azul foi promovida a distrito. A rodovia PE-103, recentemente inaugurada, faz a ligação do distrito de Serro Azul com a sede dos munícipios de Palmares (22 km) e Bonito (23 km), trazendo esperança de melhores dias.
*MOURA, Severino rodrigues de.
Senhores de Engenhos e Usineiros, a Nobreza de Pernambuco. FIAM, CEHM, SINDAÇÚCAR. 1998. Coleção Tempo Municipal. vol 17